sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Bloqueio midiático a Cuba

Bloqueio midiático: três repórteres gaúchos em Cuba, nenhuma nota sobre as eleições

Por Alexandre Haubrich





Dois dias antes das eleições norte-americanas, marcadas para 6 de novembro, tivemos, no domingo, o segundo turno do processo eleitoral cubano. A gigantesca cobertura da grande mídia brasileira sobre a disputa entre Obama e Romney nos EUA contrapõe o silêncio absoluto a respeito do que está acontecendo em Cuba, com a escolha dos candidatos pelo próprio povo e a posterior eleição, na qual a quase totalidade dos cidadãos comparece às urnas, mesmo sem que o voto seja obrigatório.

No que se refere aos jornais do Rio Grande do Sul há ainda um agravante nesse criminoso bloqueio midiático à realidade cubana. Estão em Cuba, nesse momento, três repórteres de veículos gaúchos – Rosane de Oliveira, de Zero Hora, Juremir Machado, do Correio do Povo e Oziris Marins, da Band. Eles acompanham missão do Governo do Estado, em que diversos empresários foram levados pelo governador Tarso Genro para iniciarem relações com Cuba. Mesmo com essa presença de três jornalistas não saiu sequer uma nota nos veículos lá representados a respeito do processo eleitoral.

O Correio do Povo dedicou quase uma página inteira às conversas entre empresários gaúchos e o governo cubano (muito espaço para o padrão do jornal), enquanto Zero Hora fez o mesmo em três páginas. Absolutamente nada sobre a eleição. Quer dizer, não faltou espaço para falar de Cuba, mas foi um espaço destinado apenas às vantagens econômicas que os empresários gaúchos podem tirar dessa visita. Em sua coluna Juremir escreveu sobre seu contato com o povo cubano, e, em algumas notas pontuadas por erros de informação – causados, em parte, por pura má vontade e cinismo – Rosane de Oliveira foi um pouco além das ações do empresariado – mas muito pouco. Nada sobre o segundo turno eleitoral, mantido no domingo apesar da destruição causada pelo furacão Sandy – sobre a qual também não se falou nesse setor da mídia.

O silêncio sobre a existência de eleições em Cuba é mais uma tentativa de manter o imaginário do brasileiro médio sobre a “ditadura sanguinária” que, segundo as oligarquias internacionais, existe em Cuba desde 1959, quando a Revolução Cubana chegou ao poder. Ainda que Juremir Machado certamente não pense assim, o Correio do Povo, para o qual escreve, nada publicou sobre o democrático e limpo processo eleitoral cubano, assim como o fez Zero Hora – cuja representante, Rosane de Oliveira, mostra em seus escritos mais pessoais, chamados de “Diário de Havana”, seu preconceito latente e seu olhar enviesado sobre a realidade cubana.

O silêncio é um dos instrumentos fundamentais do bloqueio midiático armado sobre Cuba como complemento necessário ao bloqueio econômico estadunidense. Casos como esse tornam ainda mais flagrantes os ataques ao direito de informação e à responsabilidade e à ética jornalística, resultados e alimentos de um modelo midiático mais comprometido com interesses financeiros do que com a verdade e o jornalismo.

Extraído do blog JORNALISMOB


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