José Reinaldo Carvalho *
Usando o velho método de acusar a vítima, a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, disse estar “preocupada” com o que considerou uma corrida armamentista na América do Sul (sic) e referiu-se explicitamente às compras de armas pela Venezuela. Extrapolando os limites da diplomacia, a secretária norte-americana insinuou que o país de Bolívar fornece armas para grupos insurgentes.
Semelhante tática diversionista e hipócrita foi utilizada pelo presidente colombiano Álvaro Uribe quando tentou, na última reunião de cúpula da Unasul, baralhar as cartas e apresentar como se fossem a mesma coisa as compras de armas pela Venezuela, o acordo militar do Brasil com a França e a instalação de sete bases militares dos Estados Unidos na Colômbia.
O atual governo do imperialismo estadunidense não tem moral para referir-se criticamente à “corrida armamentista” na América Latina nem alhures. Pois a superpotência norte-americana é o maior fautor de guerras de agressão e do militarismo no mundo de hoje. Suas despesas militares ultrapassam os 500 bilhões de dólares, suas bases militares, mais de oitocentas, encontram-se espalhadas em todos os continentes em mais de uma centena de países. Seu braço armado para a Europa e toda a região do Atlântico Norte, a OTAN expande-se para Leste e atua nas campanhas bélicas da Ásia Central. Suas frotas navais singram os mares mundo a fora, exercendo o poder marítimo como concepção estratégica para o domínio do mundo. Seus comandos militares, instalados em regiões estratégicas, continuam cumprindo o papel de pró-consulados e de principais agentes da política externa dos Estados Unidos, que se confunde com as políticas de Segurança e Defesa. Aliás, fosse a senhora Clinton uma autêntica multilateralista, como o Partido Democrata se compraz em apresentar-se, e deveria estar protestando contra este fenômeno que agiganta o militarismo e menoscaba a diplomacia.
Quanto às armas nucleares, os Estados Unidos continuam tentando impor ao mundo o odioso monopólio em mãos de um clube fechado e uma preocupante corrida para uma esmagadora primazia, com os planos de instalação do escudo anti-mísseis no leste da Europa. O Iraque e o Afeganistão continuam em chamas, massacrados pelas Forças Armadas dos Estados Unidos.
A desfaçatez da declaração da encarregada da política externa do governo dos Estados Unidos torna-se mais evidente ainda diante do incremento do militarismo com fins intervencionistas representado pela decisão de instalar sete bases militares no território colombiano e pelo relançamento da Quarta Frota da Marinha de Guerra, feito no apagar das luzes do governo anterior, mas que o governo do presidente Obama não deu nenhum sinal de que irá revogar.
É aí que mora o perigo para a América Latina, que vive um novo quadro político, marcado pelo avanço de processos democráticos, populares e antiimperialistas. Os povos latino-americanos estão realizando novas experiências políticas, avançando na obtenção de conquistas políticas e sociais, consolidando sua integração e criando uma situação difícil de reverter. O mundo mudou e já não há lugar para a política de canhoneiras de Washington nem para a arrogância ou a hipocrisia em termos de política externa.
As declarações de Hillary Clinton devem soar para nós, antiimperialistas e defensores da causa da paz, como sinal de alerta. Não deve haver espaço para ilusões. A instalação das bases militares na Colômbia e a existência da Quarta Frota são ameaças concretas à soberania de todos os países latino-americanos e uma tentativa de intimidar processos revolucionários como o que está em curso na Venezuela.
A Venezuela, assim como o Brasil, têm o direito de reequipar suas Forças Armadas com fins de dissuassão das ameaças e defesa nacional. Os processos de integração devem fazer avançar a cooperação também nesse terreno no âmbito do Conselho de Defesa da América do Sul, o que pressupõe a rejeição ao intervencionismo estadunidense e à tentativa de utilização do regime facínora da Colômbia como cabeça de ponte para perpetrar agressões em nossa região.
PS – Como foi concebido e executado até agora, é positivo para o Brasil o acordo de compra de equipamentos militares à França, com transferência de tecnologia. Mas, atenção, Sarkozy não é um democrata, não é um defensor da paz nem de uma ordem internacional baseada na igualdade e soberania das nações. É um dos maiores expoentes da direita européia, atlantista e imperial.
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