quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

TODA SOLIDARIEDADE AO HAITI


TODA SOLIDARIEDADE AO HAITI

Por Antonio Barreto *


A República do Haiti, fundada em 1804 pelos ex-escravos rebelados, primeiro país a conquistar a independência na América Latina, teve quase todo o seu povo crioulo massacrado e parte escravizada a partir de 1492, ano em que a expedição espanhola comandada por Cristóvão Colombo, aportou na Bahia hoje denominada de Porto Príncipe.

Em 1697, a metade do território a leste da Ilha (São Domingos) foi cedida à França pelos espanhóis. No século XVIII, o Haiti transformou-se na mais próspera colônia espanhola das Américas, como grande exportador de açúcar, café e cacau, produtos do trabalho escravo.

Em 1794, uma revolta dos escravos termina com o regime de servidão. Nesse mesmo ano, a França passa a dominar toda a Ilha. Em 1803, o povo haitiano, liderado pelo negro Jaques Dessalines, organiza a resistência, derrota os Franceses e no ano seguinte, declara a independência.

A reação colono/escravista estadunidense e européia foi imediata. Decretaram um bloqueio econômico ao país, que levou os haitianos a um longo período de sofrimento por 60 anos seguidos. Após encarniçada luta, o país é dividido e o território da atual República Dominicana, é recuperado pela Espanha. Reunificado em 1822, o país, vítima da espoliação estrangeira, é novamente dividido e é declarada a independência da República Dominicana em 1844.

O Haiti conviveu com 20 governantes da metade do século XIX ao início do século XX. Desses, 16 foram depostos e os Estados Unidos ocuparam militarmente o país a partir de 1915, por longos 19 anos. A partir de 1946, uma sucessão de governos fantoches dos imperialistas governaram o Haiti com “mão de ferro” e repressão em massa ao opositores do regime, tendo os assassinatos como norma contra os mais aguerridos defensores da democracia e da soberania do Haiti. Entre estes, o médico Dusmarsais Estimé e François Duvalier - o Papa Doc - e seus tutons macoutes, da guarda presidencial. Este, autodeclarado presidente vitalício, foi substituído pelo filho de 19 anos, Jean-Claude Duvalier - o Baby Doc – que após terdecretado estado de sítio em 1986, fugiu para a França para não ser trucidado pelo povo.

Em 1990 o ex-padre, seguidor da teoria da libertação, Jean-Bertrand Aristide é eleito presidente. Deposto pelos militares antes de completar um ano de mandato, o presidente Aristide é reempossado por intervenção da ONU. Eleito pela segunda vez em 2000, o presidente Aristide é novamente apeado do poder em 2003, pela pressão da oposição apoiada pelos Estados Unidos que o retiram à força do país com destino à África do Sul, para um exílio forçado.

Hoje o Haiti é governado pelo presidente René Preval, aliado incondicional dos Estados Unidos e em decorrência da grave crise de violência, filha da miséria na qual o país está mergulhado, vive sob intervenção de uma força militar de paz (MINUSTAH) da ONU, composta por 6.700 efetivos militares de 16 países, sob comando do Brasil. A presença dessa Força de Paz, neste momento, está dando uma significativa ajuda para minorar o sofrimento do povo.

O líder cubano Fidel Castro, afirmou recente em artigo intitulado “A lição do Haiti” publicado no jornal Granma, que a situação de extrema pobreza do Haiti é “uma vergonha de nossa época” e pediu soluções reais e verdadeiras para o país. Disse ainda que “O Haiti é um produto do colonialismo e imperialismo, de mais de um século de emprego de seus recursos humanos nos trabalhos mais duros, das intervenções militares e extração de suas riquezas”.

Mark Weisbrot (1) em artigo na Folha de São Paulo, publicado também no portal http://www.vermelho.org.br/, afirmou que “...das incontáveis atrocidades cometidas sob ditaduras auxiliadas e apoiadas por Washington, o golpe de 2004 não pode ser relegado ao esquecimento, visto que nada mais que “história antiga”. “Aconteceu há apenas seis anos e é diretamente relacionado ao esforço de ajuda e reconstrução que o presidente Obama está propondo agora”. Afirmou ainda, que “O primeiro governo democrático de Aristide foi derrubado após sete meses, em 1991, por oficiais militares e esquadrões da morte que, mais tarde, se descobriu estarem a soldo da Agência Central de Inteligência dos EUA. Agora, Aristide quer retornar a seu país, algo que a maioria dos haitianos reivindica desde a sua derrubada”.

Para complicar ainda mais a vida desse lutador e sofrido povo, a natureza se encarregou de completar a tragédia. O recente terremoto, além de deixar um rastro de destruição da infra-estrutura do país, centenas de milhares de mortos, feridos e desaparecidos sob escombros, e aproximadamente 3 milhões de desabrigados com fome, sede e desesperança para a maioria da população, está servindo também de mote para que o império do norte retome com mais força a sua intervenção para a ocupação política e militar do Haiti. Apega-se o imperialismo à ponta desse iciberg para um impulso à retomada da intervenção na América Latina, que teve o seu recomeço mais recentemente com a organização e sustentação política do golpe militar de Honduras.

A Fundação do Comitê Popular Baiano de solidariedade para ajuda humanitária ao povo haitiano, no dia 19/01/2010, por iniciativa da CTB, Cebrapaz e demais entidades do movimento popular da Bahia, é uma atitude internacionalista de grande significado neste momento difícil por que passa o oprimido povo haitiano.
Deposite a sua contribuição na Conta do Consulado do Haiti, em São Paulo: Banco do Brasil - Ag: 1603-3 – C.Corrente: 91000-7.

(1) Mark Weisbrot é doutor em economia pela Universidade de Michigan, é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington (http://www.cepr.net/).
Tradução de Clara Allain

* Antonio Barreto é Membro da Direção Nacional do Cebrapaz e Presidente da Associação Cultural José Martí – Bahia.

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