Desde a publicação, há alguns dias, do Projeto de Orientações da Política Econômica e Social a ser discutido no VI Congresso do Partido Comunista de Cuba, muitas esquinas estão fervilhando com o debate sobre esse tema por toda a nação. O simples fato de o projeto ter sido procurado nas prateleiras com bastante avidez mostra a grande expectativa que os temas listados no documento suscitou em toda Cuba.
E não é para menos. O propósito de se planejar em profundidade revisar os caminhos econômicos e sociais que regerão o país nos próximos anos, e não fazê-lo apenas na sessão final do Congresso, mas envolvendo todo o povo, é, para muitos, motivo de estímulo.
Ninguém quer "ficar de fora" em dar sua opinião. E todos os consultados por Juventud Rebelde disseram se sentirem "tocados" por alguma das "orientações", como o projeto ficou conhecido pelas pessoas na rua.
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Mas talvez ninguém tenha tanta avidez como os jovens em participar neste rico debate - no qual, bem se sabe, para além de um documento, estão sendo traçadas as linhas do que será a Cuba de amanhã -, porque, em boa medida, tocará a eles mesmos dar cor a esse desenho de um país melhor que todos queremos.
As linhas de todos
Rolando Peña é um dos que começaram a fazer seu próprio centro de trabalho, pois, do Minaz, passou a gerenciar seu bicitáxi pelas ruas de Holguin, e, embora ele gaste grande parte do dia pedalando de um lado para o outro, da sua sela ouve e debate até mesmo com seus próprios passageiros qualquer assunto, incluindo "as orientações".
"Eu, por exemplo, acredito que a dualidade monetária é algo que deve acabar, pois já se tornou um obstáculo para que o país avance", diz, em um respiro dos pedais.
Enquanto isso, a poucos metros de distância, Amílcar Garde, trabalhador da cadeia TRD em Holguin e com a dupla moeda em suas mãos, aponta não para uma ou outra orientação, mas para que "se proponham soluções que, em muitos casos, rompam com velhos esquemas que pareciam inalteráveis sobre esse assunto, e resumam as opiniões da maioria da população. Isso é o que eu acho que despertou maiores esperanças", diz ele, sem deixar de atender aos clientes que entram na loja.
Esse apelo para buscar novas fórmulas e discuti-las coletivamente talvez seja o maior reconhecimento à convocatória e à realização do próximo Congresso e à publicação e análise das suas orientações.
Meyra López Ramos, doutora do consultório 17, de Paso Real, em Los Palacios, em Pinar del Rio, quase no outro extremo do país, parecia ouvir o jovem atendente holguineiro quando disse ao Juventud Rebelde que "era necessário um congresso para aperfeiçoar o socialismo ".
Falando sobre sua área, uma das conquistas mais importantes de Cuba, ela reconhece que "nas orientações da política econômica e social do país se fala sobre a necessidade de melhorar a promoção e a prevenção na saúde e em utilizar mais os métodos clínicos para chegar ao diagnóstico, gastando menos que com o método de laboratório, que frequentemente é pedido sem que se tenham explorado os outros potenciais e, nesse sentido, cada médico deve tomar consciência, ante a situação de crise global, que eleva os custos e também afeta a ilha".
Por sua vez, Alie Pérez Véliz, de 33 anos, professor de História de Cuba e do Estado de Direito em Cuba na Universidade Hermanos Saiz Montes de Oca, acrescentou que as orientações econômicas e sociais devem ter um forte apoio de trabalho político, para que as pessoas compreendam as mudanças que serão implementadas, como, por exemplo, o curso para trabalhadores, que será realizado estritamente no verdadeiro tempo livre das pessoas.
Na opinião de Daima Cardoso Valdés, um jornalista de 36 anos, com o VI Congresso do Partido, que se concentrará no aperfeiçoamento econômico, estamos caminhando para o socialismo do século XXI.
"As orientações respeitam as conquistas fundamentais, não negligenciaram a cooperação internacional e têm um fundamento econômico a partir de toda a conjuntura internacional e nacional que viveu o país, incluindo os furacões; e a pessoa se dá conta, ao lê-los, que as transformações para alcançar uma maior eficiência são inadiáveis".
A lógica da mudança
Reverter situações que são completamente ilógicas - como o fato de um país com tantas terras não produzir todo o seu potencial, ou que um solo tão produtivo e um clima tão benigno dependam, em grande medida, das importações para alimentar a população - está, talvez, entre os pontos mais discutidos, onde cada qual parece ter a sua própria receita mágica.
Vê-los agora modelados nas orientações, colocados na agenda de um Congresso que planeja definir as coordenadas que vão governar o país, incentiva pessoas como Carlos Basulto Valls, que trabalha como programador de computador na Delegação Provincial da Agricultura, em Camagüey. "Espero discussões que se aproximem dos problemas mais gerais do país, como o que tem a ver com os salários".
Este jovem é um daqueles que gostou de como estão sendo pensadas as medidas, "sem pressa, nem improvisação, para não falhar, e até ter tempo de retificar aquilo que tenha que ser corrigido", disse ele.
"No meu caso particular, espero que, com as Orientações para a Política de Ciência, Tecnologia e Inovação, a indústria de software seja uma prioridade e que tudo o que se pesquise seja aplicado em nossa sociedade e tenha um impacto econômico e social. Em outras palavras, que não se engavete o conhecimento, que a informatização seja prioridade e que haja produção de grande envergadura e qualidade", acrescentou.
Enquanto isso, o açougueiro Yoanel Suarez Rodriguez espera que, ao final, as políticas definidas sejam concretizadas, em especial, para que possa equilibrar o modo de vida dos cubanos, "para que não existam pessoas que não trabalham e vivem melhor que aqueles que trabalham".
E, do alto de seus 15 anos, a estudante Denise Hernández Guerrero, traz à tona a questão de que não se trata de um Congresso e algumas orientações "somente para adultos".
"Os jovens estão cheios de expectativas com o Congresso, porque, por exemplo, no âmbito das orientações da política econômica e social a serem adotadas, estão as mudanças na educação."
Como ela, alguns entrevistados esperam ter mais conhecimento sobre as propostas nesta área e os efeitos que elas podem ter em suas aspirações profissionais. Querem saber como influirão na vida deles as correções necessárias e como se encadeiam seus anseios profissionais e os interesses que o país demanda.
Também coincide com ela Letney Cruz Hernández, do IPU José Luis Dubrocq, que argumenta que "o partido, como a máxima organização que dirige nosso povo, enfrenta esse processo com a máxima de nosso comandante em chefe, em seu conceito de revolução, quando ele diz que se deve 'mudar tudo o que precisa ser mudado'".
Para cada um o que lhe corresponde
"Já era hora de romper a inércia para resolver os problemas econômicos da nossa sociedade", diz a trabalhadora têxtil Yanerey Rodríguez Rodríguez, 27 anos, ao ser abordada por Juventud Rebelde. Esperta, ela foi rápida em sintetizar à sua maneira muitas das orientações, quando disse: "A solução para muitos problemas está, é claro, em cada um assumir aquilo que lhe corresponde em cada lugar".
"De que maneira vão se manter as conquistas da Revolução, sem uma economia saudável, interna e externamente? Eu acho que seria impossível, por isso vejo com esperança os passos que estão sendo dados para fazer o nosso próprio socialismo", enfatizou.
Para Maitte Ocaña Moreno, 24 anos e licenciada em Direito, é muito bom que se tenha essa consulta popular, que levará em conta a opinião de cada um , "como acontece toda vez que a Revolução tem que enfrentar uma decisão que envolve a sociedade como um todo. "
Outros, como a jovem vilaclarense Yoany Hernández Lucena, consideram que era imperativo estudar a fundo a sociedade cubana. "Na última década, Cuba mudou. Foram muitas as transformações como resultado de tantas exigências. As tensões internacionais e a busca por soluções no âmbito interno levaram-nos a resolver nossos problemas entre o urgente e o importante. E nesse processo de tomada de decisão ficaram abertas algumas fendas que precisam ser fechadas permanentemente."
Orientações de todos
Bem situada também foi a reflexão do médico de 25 anos, Yuniesky García Sánchez, para quem "a economia será a questão-chave, mas a razão fundamental desta ampla problemática deve sustentar-se na inevitabilidade de produzir e racionalizar os recursos que temos".
"Se não nos concentrarmos em procurar formas de aumentar nossa produção interna com vistas a não depender tanto de um mercado internacional que muda diariamente e se torna mais complexo, então não podemos superar com sucesso esta fase crucial de desafios".
"Mas, se conseguirmos juntar forças, a inteligência e a necessidade a fim de converter o desenvolvimento e a auto-gestão agrícola do país em tarefas estratégicas, sistemáticas e de alta prioridade, e, acima de tudo, bem organizada em todas as áreas, então os resultados poderão ser muito mais encorajadores."
Dando ênfase a questões que são compartilhadas por muitos dos entrevistados, a jovem instrutora de arte, Ana Gladis Carballido, argumentou que "algumas pessoas têm muitas expectativas sobre tudo o que vai acontecer, porque se tratam de transformações sérias, das quais se têm conhecimentos medianos, algumas delas inclusive bastante radicais. Mas o mais importante é a confiança de que a Revolução continuará a pensar no equilíbrio, em não deixar ninguém sem suporte. E eu acho que, no Congresso, tampouco se pode negligenciar essa perspectiva. As discussões que ali se gerem também devem ilustrar como as mudanças não transformarão nunca a verdadeira essência (da revolução). "
Não perder o rumo, mas também inserir como timoneiros, desde já, aqueles que ainda estão muito longe de pentear cabelos brancos é outro dos aspectos assinalados por vários jovens, como a estudante de décimo grau, Cindy Villarreal, para quem os jovens têm por direito essa responsabilidade, ainda que corresponda a outras gerações mais experientes a tarefa de instruir no exercício de prever, planejar, corrigir erros, tomar decisões a tempo.
"Para que os mais jovens encontremos a condução verdadeira, é necessário que o tratamento dos jovens seja sempre sistemático, flexível, edificador, com o propósito de que nós mesmos sejamos protagonistas das projeções políticas, econômicas e sociais do país ". A estudante de 17 anos Geldy González Castro aposta em um Congresso no qual os intercâmbios nos permitam crescer.
Congresso nas ruas
A chegada do VI Congresso do Partido, evento que tem ganho espaço no debate juvenil espontâneo que surge nas ruas, na sala de aula, na sala de jantar, no trabalho e até mesmo em casa, traz à tona os problemas e contradições da sociedade cubana atual. E o Congresso, nas palavras de um dos jovens entrevistados, "chegou à rua", porque não é só para os militantes do partido, como dizia Basulto Valls.
Valls, como outros entrevistados, defendeu que é essencial que fique claro que não se pode ter medo das mudanças e que, se uma ou mais delas falhar, retificá-las seria suficiente. "Sem uma economia sólida e crescente em valores produtivos, não chegaremos muito longe, mas é preciso eliminar qualquer coisa que impeça a produção, os investimentos e a eficiência, porque sem economia não se resolverão os problemas sociais que surjam no caminho", insistiu, por sua vez, Josué Garcia Parrado, estudante do terceiro ano de Engenharia Elétrica.
Também não faltam opiniões mais orientadas para questões específicas, mas também transcendentes, como a de Dayana Martínez Jeune, professora de hóquei sobre gramado, no Combinado Esportivo Garrido, que deseja que se reflita no congresso sobre como se promoverá a prática de esportes no país.
"Nossas escolas desportivas têm que ser para os estudantes de maior rendimento e que, nelas, se fomente o desenvolvimento do esporte, uma regra que não deve ser violada", disse ela. Dayana confirmou que, embora as diretrizes do VI Congresso sobre o esporte reflitam estas prioridades "na base, devem ser concretizadas, porque, se não, onde estarão os futuros atletas do país?".
Ania Luisa Goitisolo, trabalhadora da empresa Cupet, e Roberto Sánchez López, um estudante da Universidade de Ciências da Computação, ambos de Ciego de Ávila, apesar de verem o assunto de diferentes perspectivas e com nuances particulares, consideraram que o processo de redução do quadro (funcional) - como é algo que afeta muitos de uma só vez - deve desenrolar-se paulatinamente e com justeza em sua implementação em cada organização ou empresa.
O processo de discussão das Orientações está apenas começando e a juventude inicia a exploração de suas linhas para compreender o seu alcance e as implicações sociais e pessoais que possam surgir a partir da sua adoção e implementação.
Eylen Cutiño, estudante do terceiro ano de Comunicação Social na Universidade do Oriente, não teve dúvidas em reconhecer que a pergunta sobre o que pensava do assunto era difícil. "Nós jovens, especialmente, esperamos que nos esclareçam as dúvidas que temos, porque nós, como toda a população, não temos todo conhecimento sobre a política econômica que está sendo implementada, e o processo do Congresso deve ser muito esclarecedor", disse ele.
Yamile Arias, técnico em Contabilidade, de 30 anos, disse que o tanto de tempo transcorrido entre um Congresso e o outro é uma razão para que nasçam muitas expectativas, porque nesse período não foram poucos os chamados a outros debates.
"Muitos jovens cubanos não tivemos a oportunidade de acompanhar ao vivo um congresso do partido, porque há 13 anos não se realiza um evento desta magnitude. Nós éramos crianças ou muito jovens quando se realizou o V Congresso. Portanto, apesar de o conhecermos pelas referências de nossos pais, este vai ser especial para nós."
"Tudo o que for discutido e aprovado terá um impacto na sociedade, mas, sobretudo, sobre nós, porque somos nós que vamos acompanhar o futuro", encerrou.
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