domingo, 24 de janeiro de 2010

Médicos de Cuba: la solidaridad silenciada

Por: José Manzaneda

Los médicos cubanos habilitaron su vivienda como hospital de campaña, atendiendo a miles de personas al día y realizando centenares de operaciones quirúrgicas en 5 puntos asistenciales de Puerto Príncipe. Además, alrededor de 400 jóvenes de Haití formados como médicos en Cuba se unían como refuerzo a la brigada cubana

Los cerca de 400 cooperantes de la brigada médica cubana en Haití fueron la más importante asistencia sanitaria al pueblo haitiano durante las primeras 72 horas tras el reciente terremoto. Esta información ha sido censurada por los grandes medios de comunicación internacionales.

Y es que la ayuda de Cuba al pueblo de Haití no ha llegado con el terremoto. Cuba desarrolla en Haití desde 1998 un Plan Integral de Salud (1), por el que han pasado más de 6.000 cooperantes cubanos de la salud. Horas después de la catástrofe, el mismo día 13 de enero, se sumaban a la brigada cubana 60 especialistas en catástrofes, componentes del Contingente "Henry Reeve", que volaban desde Cuba con medicamentos, suero, plasma y alimentos (2). Los médicos cubanos habilitaron su vivienda como hospital de campaña, atendiendo a miles de personas al día y realizando centenares de operaciones quirúrgicas en 5 puntos asistenciales de Puerto Príncipe. Además, alrededor de 400 jóvenes de Haití formados como médicos en Cuba se unían como refuerzo a la brigada cubana (3).

Los grandes medios han silenciado todo esto. El diario El País, el 15 de enero, publicaba una infografía sobre la "Ayuda financiera y equipos de asistencia", en la que Cuba ni siquiera aparecía entre los 23 estados que han aportado colaboración (4). La cadena estadounidense Fox News llegaba a afirmar que Cuba es de los pocos países vecinos del Caribe que no han acudido a prestar ayuda.

Voces críticas de los propios EE.UU. han denunciado este tratamiento informativo, aunque siempre en muy limitados espacios de difusión.

Sarah Stevens, directora del Center for Democracy in the Americas (5) , decía en el blog The Huffington Post: ¿si Cuba está dispuesta a cooperar con los EE.UU. en el aire (dejando libre su espacio aéreo), no deberíamos cooperar con ella en iniciativas terrestres que afectan a ambas naciones y los intereses conjuntos de ayudar al pueblo haitiano? (6)

Laurence Korb, ex subsecretario de Defensa y ahora vinculado con el Center for American Progress (7), pedía al gobierno de Obama "aprovechar la experiencia de un vecino como Cuba" que "tiene algunos de los mejores cuerpos médicos del mundo", y de los que "tenemos mucho que aprender" (8).

Gary Maybarduk, ex funcionario del Departamento de Estado, ha propuesto entregar a las brigadas médicas cubanas equipamiento duradero médico con el uso de helicópteros militares de EE.UU., para que puedan desplazarse a localidades poco accesibles de Haití (9).

Y Steve Clemons, de la New America Foundation (10) y editor del blog político The Washington Note (11), afirmaba que la colaboración médica entre Cuba y EE.UU. en Haití podría generar la confianza necesaria para romper incluso el estancamiento que ha habido en las relaciones entre EE.UU. y Cuba durante decenios (12).

Pero la información sobre el terremoto de Haití, procedente de grandes agencias de prensa y de corporaciones mediáticas ubicadas en las grandes potencias, se parece más a una campaña de propaganda sobre los donativos de los países y ciudadanos más ricos del mundo. Si bien la vulnerabilidad ante la catástrofe por causa de la miseria es repetida una y otra vez por los grandes medios, ninguno ha querido entrar a analizar el papel de las economías de Europa o EE.UU. en el empobrecimiento de Haití. El drama de este país está demostrando, una vez más, la verdadera naturaleza de los grandes medios de comunicación: ser el gabinete de imagen de los poderosos del mundo, convertidos en donantes salvadores del pueblo haitiano cuando han sido y son, sin paliativos, sus verdaderos verdugos.
Fonte: Telesur

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

TODA SOLIDARIEDADE AO HAITI


TODA SOLIDARIEDADE AO HAITI

Por Antonio Barreto *


A República do Haiti, fundada em 1804 pelos ex-escravos rebelados, primeiro país a conquistar a independência na América Latina, teve quase todo o seu povo crioulo massacrado e parte escravizada a partir de 1492, ano em que a expedição espanhola comandada por Cristóvão Colombo, aportou na Bahia hoje denominada de Porto Príncipe.

Em 1697, a metade do território a leste da Ilha (São Domingos) foi cedida à França pelos espanhóis. No século XVIII, o Haiti transformou-se na mais próspera colônia espanhola das Américas, como grande exportador de açúcar, café e cacau, produtos do trabalho escravo.

Em 1794, uma revolta dos escravos termina com o regime de servidão. Nesse mesmo ano, a França passa a dominar toda a Ilha. Em 1803, o povo haitiano, liderado pelo negro Jaques Dessalines, organiza a resistência, derrota os Franceses e no ano seguinte, declara a independência.

A reação colono/escravista estadunidense e européia foi imediata. Decretaram um bloqueio econômico ao país, que levou os haitianos a um longo período de sofrimento por 60 anos seguidos. Após encarniçada luta, o país é dividido e o território da atual República Dominicana, é recuperado pela Espanha. Reunificado em 1822, o país, vítima da espoliação estrangeira, é novamente dividido e é declarada a independência da República Dominicana em 1844.

O Haiti conviveu com 20 governantes da metade do século XIX ao início do século XX. Desses, 16 foram depostos e os Estados Unidos ocuparam militarmente o país a partir de 1915, por longos 19 anos. A partir de 1946, uma sucessão de governos fantoches dos imperialistas governaram o Haiti com “mão de ferro” e repressão em massa ao opositores do regime, tendo os assassinatos como norma contra os mais aguerridos defensores da democracia e da soberania do Haiti. Entre estes, o médico Dusmarsais Estimé e François Duvalier - o Papa Doc - e seus tutons macoutes, da guarda presidencial. Este, autodeclarado presidente vitalício, foi substituído pelo filho de 19 anos, Jean-Claude Duvalier - o Baby Doc – que após terdecretado estado de sítio em 1986, fugiu para a França para não ser trucidado pelo povo.

Em 1990 o ex-padre, seguidor da teoria da libertação, Jean-Bertrand Aristide é eleito presidente. Deposto pelos militares antes de completar um ano de mandato, o presidente Aristide é reempossado por intervenção da ONU. Eleito pela segunda vez em 2000, o presidente Aristide é novamente apeado do poder em 2003, pela pressão da oposição apoiada pelos Estados Unidos que o retiram à força do país com destino à África do Sul, para um exílio forçado.

Hoje o Haiti é governado pelo presidente René Preval, aliado incondicional dos Estados Unidos e em decorrência da grave crise de violência, filha da miséria na qual o país está mergulhado, vive sob intervenção de uma força militar de paz (MINUSTAH) da ONU, composta por 6.700 efetivos militares de 16 países, sob comando do Brasil. A presença dessa Força de Paz, neste momento, está dando uma significativa ajuda para minorar o sofrimento do povo.

O líder cubano Fidel Castro, afirmou recente em artigo intitulado “A lição do Haiti” publicado no jornal Granma, que a situação de extrema pobreza do Haiti é “uma vergonha de nossa época” e pediu soluções reais e verdadeiras para o país. Disse ainda que “O Haiti é um produto do colonialismo e imperialismo, de mais de um século de emprego de seus recursos humanos nos trabalhos mais duros, das intervenções militares e extração de suas riquezas”.

Mark Weisbrot (1) em artigo na Folha de São Paulo, publicado também no portal http://www.vermelho.org.br/, afirmou que “...das incontáveis atrocidades cometidas sob ditaduras auxiliadas e apoiadas por Washington, o golpe de 2004 não pode ser relegado ao esquecimento, visto que nada mais que “história antiga”. “Aconteceu há apenas seis anos e é diretamente relacionado ao esforço de ajuda e reconstrução que o presidente Obama está propondo agora”. Afirmou ainda, que “O primeiro governo democrático de Aristide foi derrubado após sete meses, em 1991, por oficiais militares e esquadrões da morte que, mais tarde, se descobriu estarem a soldo da Agência Central de Inteligência dos EUA. Agora, Aristide quer retornar a seu país, algo que a maioria dos haitianos reivindica desde a sua derrubada”.

Para complicar ainda mais a vida desse lutador e sofrido povo, a natureza se encarregou de completar a tragédia. O recente terremoto, além de deixar um rastro de destruição da infra-estrutura do país, centenas de milhares de mortos, feridos e desaparecidos sob escombros, e aproximadamente 3 milhões de desabrigados com fome, sede e desesperança para a maioria da população, está servindo também de mote para que o império do norte retome com mais força a sua intervenção para a ocupação política e militar do Haiti. Apega-se o imperialismo à ponta desse iciberg para um impulso à retomada da intervenção na América Latina, que teve o seu recomeço mais recentemente com a organização e sustentação política do golpe militar de Honduras.

A Fundação do Comitê Popular Baiano de solidariedade para ajuda humanitária ao povo haitiano, no dia 19/01/2010, por iniciativa da CTB, Cebrapaz e demais entidades do movimento popular da Bahia, é uma atitude internacionalista de grande significado neste momento difícil por que passa o oprimido povo haitiano.
Deposite a sua contribuição na Conta do Consulado do Haiti, em São Paulo: Banco do Brasil - Ag: 1603-3 – C.Corrente: 91000-7.

(1) Mark Weisbrot é doutor em economia pela Universidade de Michigan, é codiretor do Centro de Pesquisas Econômicas e Políticas, em Washington (http://www.cepr.net/).
Tradução de Clara Allain

* Antonio Barreto é Membro da Direção Nacional do Cebrapaz e Presidente da Associação Cultural José Martí – Bahia.
Reflexões de Fidel

A lição do Haiti

• HÁ dois dias, quase às 18h, hora de Cuba, já de noite no Haiti devido a sua posição geográfica, as televisoras começaram a divulgar notícias de que um violento terremoto, de uma intensidade 7,3 na escala de Ritcher, tinha devastado Porto Príncipe. O fenômeno sísmico originou-se numa falha tectônica situada no mar, localizada apenas a 15 quilômetros da capital haitiana, uma cidade onde 80% da população haitiana mora em casas frágeis construídas de adobe e barro.

As notícias continuaram sendo difundidas quase ininterruptamente durante horas. Não havia imagens, mas afirmava-se que muitos prédios públicos, hospitais, escolas e instalações de construção mais sólida tinham colapsado. Eu li que um terremoto de uma intensidade 7,3 equivale à energia liberada por uma explosão igual a 400 mil toneladas de TNT.

Descrições trágicas eram veiculadas. Os feridos nas ruas pediam aos gritos ajuda médica, rodeados de ruínas com famílias sepultadas. No entanto, ninguém conseguiu transmitir nenhuma imagem durante muitas horas.

A notícia surpreendeu todos nós. Muitos escutávamos com freqüência informações sobre furacões e grandes cheias no Haiti, mas ignorávamos que o vizinho país corria o risco de sofrer um grande terremoto. Nesta ocasião, veio à baila que, há 200 anos, essa mesma cidade tinha sofrido um grande terremoto, quando talvez a cidade tinha alguns poucos milhares de habitantes.

Às 24h ainda não se conhecia uma cifra aproximada de vítimas. Altos chefes das Nações Unidas e vários chefes de governo falavam sobre os comoventes acontecimentos e anunciavam o envio de brigadas de primeiros-socorros. Como ali estão desdobradas tropas da MINUSTAH, forças das Nações Unidas de diversos países, alguns ministros de defesa falavam de possíveis baixas entre o seu pessoal.

Foi verdadeiramente na manhã de ontem, quarta-feira, quando começaram a chegar as tristes notícias sobre as consideráveis perdas humanas na população e, inclusive, instituições como as Nações Unidas mencionavam que algumas de suas edificações naquele país tinham colapsado, um termo que não diz nada de per si ou que poderia significar muito.

Durante horas continuaram chegando ininterruptamente notícias cada vez mais traumáticas sobre a situação nesse país irmão. Eram discutidas as cifras das vítimas mortais que flutuam, segundo versões, entre 30 mil e 100 mil. As imagens são assustadoras; é evidente que o desastroso acontecimento teve ampla difusão mundial, e muitos governos, sinceramente comovidos, fazem esforços para cooperar conforme os seus recursos.

A tragédia abala sinceramente grande número de pessoas, especialmente as de índole natural. Mas, talvez, poucas se detêm em pensar por que o Haiti é um país tão pobre. Por que a sua população depende quase 50% das remessas familiares que são recebidas do exterior? Por que não se analisa também as realidades que conduzem à situação atual do Haiti e seus enormes sofrimentos?

O mais curioso desta história é que ninguém diz uma só palavra para lembrar que o Haiti foi o primeiro país onde 400 mil africanos escravizados e vítimas do tráfico dos europeus se revoltaram contra 30 mil donos brancos de plantações canavieiras e de café, fazendo a primeira grande revolução social em nosso hemisfério. Páginas de insuperável glória ali foram escritas. O mais eminente general de Napoleão foi derrotado. Haiti é um produto absoluto do colonialismo e do imperialismo, de mais de um século de emprego de seus recursos humanos nos trabalhos mais duros, das intervenções militares e do saque de suas riquezas.

Este esquecimento da história não seria tão grave como o fato real de que o Haiti é uma vergonha de nossa época, num mundo onde prevalece a exploração e o saque da imensa maioria dos habitantes do planeta.

Bilhões de pessoas na América Latina, África e Ásia sofrem carências similares, embora talvez em todas tenham uma proporção tão elevada como a do Haiti.

Situações como a que sofre esse país não deveriam existir em nenhum lugar da Terra, onde abundam dezenas de milhares de cidades e povoados em condições similares e, às vezes, piores, em virtude de uma ordem econômica e política internacional injusta imposta ao mundo. A população mundial não está ameaçada apenas por catástrofes naturais como a do Haiti, que é apenas uma prova fraca do que pode acontecer no planeta devido à mudança climática, que foi, na verdade, alvo de escárnio e engano em Copenhague.

É justo exprimir a todos os países e instituições que perderam alguns cidadãos ou membros por motivo da catástrofe natural no Haiti: não duvidamos que neste momento envidarão todos os esforços para salvarem vidas humanas e mitigarem a dor desse povo sofrido. Não podemos culpá-los do fenômeno natural que ali aconteceu, embora discordemos da política aplicada no Haiti.

Não posso deixar de exprimir a opinião de que é hora de encontrar soluções reais e verdadeiras para esse povo irmão.

No setor da saúde e noutros, Cuba, apesar de ser um país pobre e bloqueado, há anos vem cooperando com o povo haitiano. Ao redor de 400 médicos e especialistas da saúde cooperam gratuitamente com o povo haitiano. Os nossos médicos trabalham diariamente nas 227 das 237 comunidades do país. Por outro lado, não menos de 400 jovens haitianos formaram-se como médicos em nossa Pátria. Agora trabalharão com a brigada que foi ali ontem para salvar vidas nesta situação crítica. Portanto, podem se mobilizar sem muito esforço, até mil médicos e especialistas da saúde, que já estão ali quase todos dispostos a cooperarem com outro Estado qualquer que desejar salvar vidas haitianas e curar os feridos.

Outro número considerável de jovens haitianos estuda medicina em Cuba.

Também cooperamos com o povo haitiano em outras áreas que estão ao nosso alcance. No entanto, não haverá nenhuma outra forma de cooperação digna de ser qualificada dessa forma que a de lutar na esfera das ideias e da ação política para pôr fim à imensa tragédia que sofre um grande número de nações como o Haiti.

A chefa da nossa brigada médica informou: "A situação é difícil, mas já começamos a salvar vidas". Ela fê-lo ontem, através de uma breve mensagem umas horas depois de chegar ontem a Porto Príncipe com mais reforço médico.

Já na alta noite, comunicou que os médicos cubanos e os haitianos formados na ELAM estavam se espalhando pelo país. Tinham atendido em Porto Príncipe a mais de mil pacientes, conseguindo pôr urgentemente em funcionamento um hospital que não colapsou e empregando barracas onde for necessário. Preparavam-se para instalar rapidamente outros locais de pronto-socorro.

Sentimos sadio orgulho pela cooperação que, neste trágico momento, prestada pelos médicos cubanos e jovens médicos haitianos formados em Cuba aos seus irmãos do Haiti!

Fidel Castro Ruz

14 de janeiro de 2010

20h25
Reflexões de Fidel

O Haiti coloca à prova o espírito de cooperação


• As notícias procedentes do Haiti configuram o grande caos que se esperava, devido à situação excepcional criada pela catástrofe.

Surpresa, espanto, abatimento nos primeiros instantes, vontade de prestar ajuda imediata nos cantos mais afastados da Terra. O quê enviar e como fazê-lo para um canto do Caribe, a partir da China, Índia, Vietnã e de outros pontos localizados a dezenas de milhares de quilômetros? A magnitude do terremoto e da pobreza do país gera nos primeiros momentos ideias de necessidades imaginárias, que dão azo a todo o tipo de promessas possíveis que depois tentam fazer chegar por qualquer via.

Os cubanos compreendemos que o mais importante nesse momento era salvar vidas, para o qual estávamos treinados, não apenas diante de catástrofes como essa, mas também de outras catástrofes naturais relacionadas com a saúde.

Ali estavam centenas de médicos cubanos e, além disso, um número considerável de jovens haitianos de origem humilde, convertido em profissionais da saúde bem treinados, uma tarefa npara a qual contribuímos durante muitos anos com esse país irmão e vizinho. Uma parte dos nossos compatriotas estava de férias e outros, de origem haitiana, treinavam-se ou estudavam em Cuba.

O terremoto ultrapassou qualquer estimativa; as casas humildes de adobe e barro — de uma cidade com quase dois milhões de habitantes — não podiam resistir. Instalações governamentais sólidas desabaram; quarteirões completos de moradias se desmoronaram sobre os habitantes que, nessa hora, ao anoitecer, estavam em seus lares, ficando sepultados abaixo das ruínas, vivos ou mortos. As ruas estavam repletas de pessoas feridas que clamavam auxílio. A MINUSTAH, força das Nações Unidas, o governo e a Polícia ficaram sem chefatura nem posto de comando. No primeiro momento, a tarefa dessas instituições com milhares de pessoas foi saber quem estava com vida e onde.

A decisão imediata dos nossos abnegados médicos que trabalhavam no Haiti, bem como dos jovens especialistas da saúde formados em Cuba, foi comunicarem-se entre si, conhecerem de sua sorte e saberem com que pessoal se contava para socorrer o povo haitiano naquela tragédia.

Os que estavam de férias em Cuba aprontaram-se logo para partir, assim como os médicos haitianos que se especializavam em nossa Pátria. Outros especialistas cubanos em cirurgia que já cumpriram missões difíceis se ofereceram para partir com eles. Basta dizer que, antes de 24 horas, os nossos médicos já tinham atendido a centenas de pacientes. Hoje, 16 de janeiro, apenas três dias e meio depois da tragédia, o número de pessoas com lesões já auxiliadas por eles elevava-se a vários milhares.

Ao meio-dia de hoje, sábado, a chefia de nossa brigada informou, entre outros dados, os seguintes:

"… na verdade, é louvável o trabalho que estão fazendo os companheiros. É uma opinião unânime que, comparativamente, o Paquistão ficou bem atrás ―ali houve outro grande terremoto onde alguns trabalharam―; naquele país muitas vezes recebiam fraturas, inclusive, mal consolidadas, alguns esmagamentos, mas aqui foi ultrapassado tudo o imaginável: amputações abundantes, as operações praticamente é preciso fazê-las em público; é a imagem que tinham de uma guerra."

"… o hospital Delmas 33 já está funcionando; tem três salas de operações cirúrgicas, com geradores elétricos, áreas de consulta etc., porém está absolutamente repleto."

"… Incorporaram-se 12 médicos chilenos, um deles anestesiologista; também oito médicos venezuelanos; nove freiras espanholas; espera-se a incorporação, de um momento para o outro, de 18 espanhóis, aos quais a ONU e a Saúde Pública haitiana tinham entregado o hospital, mas faltavam-lhes recursos de urgência que não tinham podido chegar, portanto, decidiram se juntar a nós e começar a trabalhar logo."

"… foram enviados 32 médicos residentes haitianos, seis deles iam diretamente para Carrefour, um local completamente devastado. Também foram os três times cirúrgicos cubanos que chegaram ontem."

"… estamos operando as seguintes instalações médicas em Porto Príncipe:

Hospital La Renaissance.

Hospital da Previdência Social.

Hospital da Paz."

"… já funcionam quatro CDIs (Centros de Diagnóstico Integral)."

Nesta informação, apenas é transmitida uma ideia do que está fazendo no Haiti o pessoal médico cubano e de outros países que trabalha junto com eles, entre os primeiros que chegaram a essa nação. Nosso pessoal está disposto a cooperar e juntar suas forças com todos os especialistas da saúde que foram enviados para salvar vidas nesse povo irmão. O Haiti poderia se tornar um exemplo do que a humanidade pode fazer por si própria. A possibilidade e os meios existem, mas falta decisão.

Quanto mais tempo demorar o enterramento ou a incineração dos falecidos, a distribuição de alimentos e de outros produtos vitais, os riscos de epidemias e violências sociais se elevarão.

No Haiti se colocará à prova quanto pode durar o espírito de cooperação, antes que prevaleçam o egoísmo, o chauvinismo, os interesses mesquinhos e o desprezo por outras nações.

A mudança climática ameaça toda a humanidade. O terremoto de Porto Príncipe, apenas três semanas depois, está fazendo com que todos nós lembremos quão egoístas e autossuficientes nos comportamos em Copenhague.

Os países acompanham de perto todo o que acontece no Haiti. A opinião mundial e os povos serão cada vez mais severos e implacáveis em suas críticas.

Fidel Castro Ruz

16 de janeiro de 2010

19h46 •

Os pecados do Haiti
por Eduardo Galeano

A democracia haitiana nasceu há um instante. No seu breve tempo de vida, esta criatura faminta e doentia não recebeu senão bofetadas. Era uma recém-nascida, nos dias de festa de 1991, quando foi assassinada pela quartelada do general Raoul Cedras. Três anos mais tarde, ressuscitou. Depois de haver posto e retirado tantos ditadores militares, os Estados Unidos retiraram e puseram o presidente Jean-Bertrand Aristide, que havia sido o primeiro governante eleito por voto popular em toda a história do Haiti e que tivera a louca idéia de querer um país menos injusto.

O voto e o veto

Para apagar as pegadas da participação estado-unidense na ditadura sangrenta do general Cedras, os fuzileiros navais levaram 160 mil páginas dos arquivos secretos. Aristide regressou acorrentado. Deram-lhe permissão para recuperar o governo, mas proibiram-lhe o poder. O seu sucessor, René Préval, obteve quase 90 por cento dos votos, mas mais poder do que Préval tem qualquer chefete de quarta categoria do Fundo Monetário ou do Banco Mundial, ainda que o povo haitiano não o tenha eleito nem sequer com um voto.

Mais do que o voto, pode o veto. Veto às reformas: cada vez que Préval, ou algum dos seus ministros, pede créditos internacionais para dar pão aos famintos, letras aos analfabetos ou terra aos camponeses, não recebe resposta, ou respondem ordenando-lhe:
– Recite a lição. E como o governo haitiano não acaba de aprender que é preciso desmantelar os poucos serviços públicos que restam, últimos pobres amparos para um dos povos mais desamparados do mundo, os professores dão o exame por perdido.

O álibi demográfico

Em fins do ano passado, quatro deputados alemães visitaram o Haiti. Mal chegaram, a miséria do povo feriu-lhes os olhos. Então o embaixador da Alemanha explicou-lhe, em Port-au-Prince, qual é o problema:
– Este é um país superpovoado, disse ele. A mulher haitiana sempre quer e o homem haitiano sempre pode.

E riu. Os deputados calaram-se. Nessa noite, um deles, Winfried Wolf, consultou os números. E comprovou que o Haiti é, com El Salvador, o país mais superpovoado das Américas, mas está tão superpovoado quanto à Alemanha: tem quase a mesma quantidade de habitantes por quilômetros quadrado.

Durante os seus dias no Haiti, o deputado Wolf não só foi golpeado pela miséria como também foi deslumbrado pela capacidade de beleza dos pintores populares. E chegou à conclusão de que o Haiti está superpovoado... de artistas.

Na realidade, o álibi demográfico é mais ou menos recente. Até a alguns anos, as potências ocidentais falavam mais claro.

A tradição racista

Os Estados Unidos invadiram o Haiti em 1915 e governaram o país até 1934. Retiraram-se quando conseguiram os seus dois objetivos: cobrar as dívidas do City Bank e abolir o artigo constitucional que proibia vender plantações aos estrangeiros. Então Robert Lansing, secretário de Estado, justificou a longa e feroz ocupação militar explicando que a raça negra é incapaz de governar-se a si própria, que tem "uma tendência inerente à vida selvagem e uma incapacidade física de civilização". Um dos responsáveis da invasão, William Philips, havia incubado tempos antes a idéia sagaz: "Este é um povo inferior, incapaz de conservar a civilização que haviam deixado os franceses".

O Haiti fora a pérola da coroa, a colônia mais rica da França: uma grande plantação de açúcar, com mão-de-obra escrava. No Espírito das leis, Montesquieu havia explicado sem papas na língua: "O açúcar seria demasiado caro se os escravos não trabalhassem na sua produção. Os referidos escravos são negros desde os pés até a cabeça e têm o nariz tão achatado que é quase impossível deles ter pena. Torna-se impensável que Deus, que é um ser muito sábio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro".

Em contrapartida, Deus havia posto um açoite na mão do capataz. Os escravos não se distinguiam pela sua vontade de trabalhar. Os negros eram escravos por natureza e vagos também por natureza, e a natureza, cúmplice da ordem social, era obra de Deus: o escravo devia servir o amo e o amo devia castigar o escravo, que não mostrava o menor entusiasmo na hora de cumprir com o desígnio divino. Karl von Linneo, contemporâneo de Montesquieu, havia retratado o negro com precisão científica: "Vagabundo, preguiçoso, negligente, indolente e de costumes dissolutos". Mais generosamente, outro contemporâneo, David Hume, havia comprovado que o negro "pode desenvolver certas habilidades humanas, tal como o papagaio que fala algumas palavras".

A humilhação imperdoável

Em 1803 os negros do Haiti deram uma tremenda sova nas tropas de Napoleão Bonaparte e a Europa jamais perdoou esta humilhação infligida à raça branca. O Haiti foi o primeiro país livre das Américas. Os Estados Unidos haviam conquistado antes a sua independência, mas tinha meio milhão de escravos a trabalhar nas plantações de algodão e de tabaco. Jefferson, que era dono de escravos, dizia que todos os homens são iguais, mas também dizia que os negros foram, são e serão inferiores.

A bandeira dos homens livres levantou-se sobre as ruínas. A terra haitiana fora devastada pela monocultura do açúcar e arrasada pelas calamidades da guerra contra a França, e um terço da população havia caído no combate. Então começou o bloqueio. A nação recém nascida foi condenada à solidão. Ninguém lhe comprava, ninguém lhe vendia, ninguém a reconhecia.

O delito da dignidade

Nem sequer Simón Bolíver, que tão valente soube ser, teve a coragem de firmar o reconhecimento diplomático do país negro. Bolívar havia podido reiniciar a sua luta pela independência americana, quando a Espanha já o havia derrotado, graças ao apoio do Haiti. O governo haitiano havia-lhe entregue sete naves e muitas armas e soldados, com a única condição de que Bolívar libertasse os escravos, uma idéia que não havia ocorrido ao Libertador. Bolívar cumpriu com este compromisso, mas depois da sua vitória, quando já governava a Grande Colômbia, deu as costas ao país que o havia salvo. E quando convocou as nações americanas à reunião do Panamá, não convidou o Haiti mas convidou a Inglaterra.

Os Estados Unidos reconheceram o Haiti apenas sessenta anos depois do fim da guerra de independência, enquanto Etienne Serres, um gênio francês da anatomia, descobria em Paris que os negros são primitivos porque têm pouca distância entre o umbigo e o pénis. Por essa altura, o Haiti já estava em mãos de ditaduras militares carniceiras, que destinavam os famélicos recursos do país ao pagamento da dívida francesa. A Europa havia imposto ao Haiti a obrigação de pagar à França uma indenização gigantesca, a modo de perdão por haver cometido o delito da dignidade.

A história do assédio contra o Haiti, que nos nossos dias tem dimensões de tragédia, é também uma história do racismo na civilização ocidental.

18/Janeiro/2010

O original encontra-se em www.resumenlatinoamericano.org , Nº 2146
Este artigo encontra-se em http://resistir.info

domingo, 10 de janeiro de 2010

Sombrero Azul (Ali Primera)

Ali Primera, cantor venezuelano que viveu até 1985, é um dos grandes representantes da música latino-americana. Seu canto comprometido com a luta do povo ainda hoje é ouvido nas grandes manifestações populares. O vídeo acima mostra um belo momento de solidariedade de Ali Primera ao povo nicaraguense numa grande festa popular ocorrida em Managua em 1983 (por equívoco o vídeo registra 1973). A música é, por sua vez, uma homenagem ao povo salvadorenho que estava naquela época em luta contra a ditadura apoiada pelos EUA.

Natalie Cardone (Hasta Siempre)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Passeio por Havana

PASSEIO POR HAVANA
Frei Betto

Havana, nesta época do ano, é banhada por suave temperatura. O calor é amenizado pelo hálito de frescor que sopra das águas azuladas por trás do Malecón. A umidade reflui, embora a população se mantenha atenta à meteorologia: outubro e novembro são meses de furacões. Ano passado, ceifaram quase 20% do PIB, hoje calculado em US$ 50 bilhões.

Não há sinal de que o desastre se repita este ano. Impossível, contudo, prever as reações vingativas de Gaia, cruelmente estuprada por nossa ambição de lucro e solene desprezo à mãe ambiente.

A visita à Cuba, na penúltima semana de outubro, não tinha agenda de trabalho. Fui a convite do querido amigo José Alberto de Camargo que, para comemorar aniversário, escolheu a cidade reencantada pela literatura de Lezama Lima, Alejo Carpentier e Nicolás Guillén.

A comitiva (comitiva do coração) incluiu os jornalistas Chico Pinheiro e Ricardo Kotscho, este acompanhado de Mara, sua mulher. Alojados no octogenário Hotel Nacional, brindamos o desembarque com o daiquiri de La Floridita, onde Hemingway tomava seus porres. Visitamos a casa de praia em que ele morou e escreveu “O velho e o mar”, bem como o Hotel Ambos Mundos, no qual viveu seis anos e redigiu “Por quem os sinos dobram”.

Foram dias de boa culinária caribenha no El Templete, à beira do porto, e em El Oriente, frequentado por Saramago e García Márquez. Entre mojitos e o aroma perfumado dos charutos Cohiba, cuja fábrica percorremos, mantivemos proveitosas conversas com cidadãos anônimos e autoridades do país, como Ricardo Alarcón, presidente da Assembleia Nacional; Eusébio Leal, historiador da cidade (e responsável pela restauração da área colonial de Havana); Homero Acosta, secretário do Conselho de Estado (no qual se congregam ministros e dirigentes do país); Armando Hart, do Centro de Estudos Martianos; Abel Prieto, ministro da Cultura; e Caridad Diego, responsável pelo Gabinete de Assuntos Religiosos (que cuida da relação entre Estado e denominações confessionais).

Permaneci um dia a mais para encontrar-me com Raúl Castro, atual presidente, com quem almocei no sábado, 24, e Fidel que, na tarde do mesmo dia, me recebeu em sua casa, com direito a jantar.

Cuba se encontra grávida de si mesma. Após 50 anos de Revolução, é hora de analisar erros e impasses. Mira-se o passado para enxergar melhor o futuro. Em 2010, o 9º congresso do Partido Comunista deverá submeter o país à verificação de suas contradições e elaboração de novas estratégias, sobretudo no que concerne à economia e à emulação ética.

Engana-se quem supõe Cuba retrocedendo ao capitalismo. Ainda que se multipliquem aberturas à economia de mercado, devido à globalização e o mundo unipolar hegemonizado pelo neoliberalismo, não interessa à Ilha priorizar a acumulação privada da riqueza em detrimento da maioria da população. A América Central é o espelho no qual Cuba não quer se ver: ali os índices de violência são, hoje, os mais altos do mundo, com 23 assassinatos/ano por cada grupo de 100 mil habitantes. No Brasil, o índice é de 31/100 mil e, em Cuba, 5,8/100 mil. Basta dizer que, no Rio, a polícia matou, em 2007, 1.330 pessoas. No ano anterior, em todo os EUA foram mortas pela polícia 347 pessoas.

Os cubanos são conscientes de as falhas do país não poderem ser todas atribuídas ao criminoso bloqueio imposto, há mais de 40 anos, pela Casa Branca (e, agora, em vias de distenção pela administração Obama).

A manutenção, por longo tempo, de medidas justificadas pela Guerra Fria, começa a ser questionada. É o caso do caráter paternalista do Estado que assegura, a 11 milhões de habitantes, gratuitamente, cesta básica, saúde e educação de qualidade.

Por essa razão, a qualidade de vida em Cuba, onde o analfabetismo está erradicado, figura em 51º lugar, entre 182 países, no Índice de Desenvolvimento Humano 2009, da ONU. O Brasil mereceu a 75ª classificação. Não se cogita alterar o direito universal e gratuito à saúde e à educação. Porém, a redução dos subsídios à alimentação deverá coincidir com o aumento de salários e da produtividade agrícola, de modo a diminuir a importação de 80% dos alimentos consumidos.

Busca-se solução a curto prazo para a duplicidade de moedas: o CUC adquirido pelos turistas (evita o câmbio paralelo e a evasão de divisas) e o peso utilizado pelo cidadão cubano. O turismo, ao lado da exportação de níquel, é das principais fontes de arrecadação de Cuba que, com tamanho 64 vezes inferior ao Brasil, recebe 2,5 milhões de turistas por ano, metade dos que desembarcam em nosso país no mesmo período.

Toda a América Latina se opõe, hoje, ao bloqueio e apoia a reintegração de Cuba nos organismos continentais. A questão política mais relevante nas relações internacionais é a urgente libertação dos cinco cubanos presos nos EUA desde 1998, condenados a penas elevadíssimas, acusados – acreditem! – de evitar atos terroristas. Os cinco lograram abortar 170 atentados planejados contra Cuba dentro da comunidade cubana de Miami.

Fernando Morais, com quem jantamos em Havana, promete lançar, em 2010, livro em que conta a esdrúxula história do processo movido pela Justiça usamericana contra os cinco cubanos.

PS: A quem possa interessar: Fidel goza de muito boa saúde e excelente bom humor.


Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.