Na noite da quarta-feira passada (14 de abril), não obstante a tempestade que se abateu sobre a capital baiana, participantes e amigos da Associação Cultural José Martí, que sonseguiram vencer o caos em que se transformou a cidade, tiveram o prazer de ouvir, no auditório do Sindicato dos Bancários, a palestra de três ilustres membros da delegação cubana à Conferência da ONU sobre Prevenção dos Delitos e Justiça Criminal.
Rafael Pino Bécquer, Vice Procurador Geral da República; Norma Goicochea, diplomata e Julio Alfonso Fonseca, Secretário de Relações Internacionais do Ministério de Justiça falaram por mais de duas horas sobre questões importantes da realidade cubana atual, tais como o uso político da morte do preso comum Orlando Zapata após uma greve de fome, a ofensiva midiática e os novos desafios da Revolução. Por provocação da platéia, comentaram também sobre a questão racial em Cuba. Este último tema despertou particular interesse dos ouvintes, uma vez que estavam presentes representantes de organizações de luta da população negra da Bahia.
Os palestrantes contaram que a Revolução de 1959 foi um divisor de águas na história cubana também no que se refere ao racismo. Antes havia uma realidade de quase "apartheid" em que os negros não tinham acesso à educação, saúde pública, cultura nem aos cargos públicos. Acrescentaram que o socialismo garantiu a toda a população cubana saúde e educação e conseguiu ampliar sensivelmente as oportunidades à população negra, embora seja necessário avançar ainda mais.
Norma, mulher e negra, pertencente ao corpo diplomático cubano perante a ONU por mais de dez anos e atualmente embaixadora de seu país na Austria falou aos presentes, emocionada, que sua mãe, mulher inteligente e de grande vivacidade, era empregada doméstica na casa de patrões brancos e era isto que significava ser mulher e negra em Cuba pré-59. Tão logo a Revolução sagrou-se vitoriosa sua mãe disse: "Chega! Trabalho para eles desde que tinha 9 anos de idade! Chega! Acabou!". E concluiu: "Que futuro me estaria reservado sem a Revolução?".
Disseram também os palestrantes que a Revolução tem um profundo compromisso anti-racista e por isso Cuba foi o único país fora da África que mandou soldados e armas para combater o regime do apartheid. Acrescentaram que a presença negra é forte no governo cubano: são negros o vice-presidente do país, o presidente do Tribunal Supremo, vários dos ministros e muitos diplomatas.
Por fim, observaram que, de fato, há resquícios de preconceito na sociedade cubana, mas que é absolutamente falso falar em racismo institucionalizado, uma vez que a Revolução tem como um de seus principais objetivos propiciar igualdade nas condições de vida de todas as pessoas e assegurar a todos igualdade de oportunidades para desenvolver suas potencialidades como seres humanos. Infelizmente, disseram os membros da delegação cubana, o preconceito é algo que foi culturalmente introjetado por centenas de anos de colonialismo e de um modelo produtivo baseado na mão-de-obra escrava, de modo que é mais difícil combatê-lo.
Encerrando o evento, muitos dos presentes se pronunciaram agradecendo a solidariedade e o exemplo de Cuba para o mundo, elogiando também a disponibilidade dos palestrantes.
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