sábado, 12 de junho de 2010

Aniversário de Gerardo. Um herói dos dias atuais.



Comitê Internacional pela Libertação dos 5 Cubanos

GERARDO: CRER na ESPERANÇA


.... vou te esperar debaixo do olmo verde, /debaixo do olmo sem folhas. / Vou te esperar até que o último tenha regressado/ e ainda depois.// Bertolt Brecht

Por Marlene Caboverde Caballero

Condenaram-no ao desterro do silêncio, ao castigo da solidão mais sórdida; dependuraram em seu pescoço, como um pedaço de ferro, duas cadeias perpétuas e o jogaram no vazio de uma cela, ao império do mal em uma prisão. Apesar de tudo, mantinha um sorriso estampado no rosto.

Eles, aqueles que o julgaram e condenaram, não poderiam sequer suspeitar que ele se adaptaria para edificar atrás das grades esse país onde um homem e uma mulher jamais correriam o risgo de se desgastar, nem sequer por tantos beijos.

Quiseram corroer-lhe a vontade e transformou então ‘O Néscio’ de Silvio Rodrigues, num hino anti-ratos. Pretenderam usurpar-lhe a bondade, porém chegou um passarinho, um cardeal, pequenino, recém nascido, desplumado e morto de frio, como a renovação na alma do valor de um amigo.

Alguém pensou que a fim de esmaecer seu júbilo o ideal seria encerrar seu expediente, apagar o caso, ignorar sua existência na velha prisão de Victorville de muros e paredes gris. Porém, amanheceu a solidariedade em milhares de mãos, rostos e vozes que iluminam seus dias com esses ‘te amamos’, ‘não te rendas’, ‘estamos contigo’, ‘esperamos por ti’, ‘te libertaremos’.

E assim crescia em sua cara aquele sorriso odiado e maldito pelos inquisidores da liberdade. Decidiram que acabaria aniquilado pela saudade do tempo e das distâncias, se persistissem em negar-lhe os abraços, os lábios e o peito cálido de sua mulher.

Todavia, para ele bastava aquela boca de primaveras saltando de uma fotografia, e se via em seus olhos, e ela lhe falava e lhe devolvia os encontros, as promessas, os nomes dos filhos visíveis, possíveis, que flutuavam em algum ponto dos universos.

Falhava a agonia das duas cadeias perpétuas e aqueles que acreditavam no infalível do martírio, foram esmagados entre o desconcerto e a derrota pelo gozo que pervivia no rosto daquele homem, devolvendo-lhes.

E para cúmulo o chamam de Cuba, se retorcem os fígados os que se empenham em hostilizá-lo com os punhais da tristeza. E além do mais distribui desenhos com gaivotas, coelhos e pepinos com os demais prisioneiros que querem consolar as crianças que os esperam em casa. E também faz com que a sala de visitas e o pátio transbordem de gargalhadas, de uma insólita alegria.

Não durará duas cadeias perpétuas, decidem definitivamente e até aliviados, aqueles que o condenaram ao desterro do silêncio e ao castigo da solidão. Que tolos! pensa ele, pois acaba de cumprir apenas 46.

É 4 de junho e ele conversa então com o espelho, ri de sua calvície, volta a lembrar-se do cardeal e se alegra como um crianção.

Depois de quase doze anos, aqueles de espírito seco e vista curta que ficam para detrás dessa fórmula tão simples de Gerardo Hernández Nordelo, que consiste tão somente em acreditar na esperança.

Nenhum comentário: