quinta-feira, 10 de junho de 2010

Vozes do silêncio: A ajuda de Cuba ao Haiti e o silêncio da mídia




Por LETICIA MARTÍNEZ HERNÁNDEZ


PORTO PRÍNCIPE, Haiti.— O Dr. William há quatro meses dorme sob uma lona no hospital de Croix des Bouquet. Como ele, muitos cubanos conciliam o sono de cada noite debaixo de uma tenda ali onde a temperatura chega perto dos cuarenta graus e onde em certos dias são atendidos mais de 600 pacientes. E enquanto o relógio caminha, mais depressa do que muitos gostariam, não há tempo nem de sonhar. O cansaço não deixa espaço para tais luxos. Quase amanhece. A fila cresce ao redor do parque. Começa outra jornada em um dos hospitais de campanha montados por Cuba em Porto Príncipe, um dos poucos que permanecem em pé depois da enxurrada de ajudas do mês de janeiro e que agora, passados alguns meses, ficaram escassas. Mas disso não falam os grandes meios de comunicação, imensos em sua capacidade de desinformar ou alterar a realidade conforme suas vontades.

É o que confirma o Project Censored, da Sonoma State University da California: uma das 400 notícias mais ocultadas pela grande imprensa européia e estadunidense foi a ajuda de Cuba ao Haití, pré-selecionada, tristemente, para competir entre as 25 mais omitidas do ano. Ninguém falou do reforço de 60 médicos cubanos que puseram o pé aqui quando sequer havia passado 24 horas do terremoto, quando os lamentos eram infernais, quando a nuvem de pó não terminava de esfumaçar-se, quando as réplicas não davam trégua e sossego, quando os mortos se acumulavam, quando os feridos acreditavam que também morreriam, quando não havia mão estendida que não fosse a de Cuba. Ninguém falou dos mil médicos cubanos que pouco a pouco foram chegando. Ninguém falou dos onze anos que já levavam atendendo e curando nos lugares mais incríveis do país, incríveis por miseráveis, não por faustosos. Ninguém falou, nem falará, dos esforços para reconstruir o sistema de saúde pública haitiano, uma das ajudas mais importantes postas em marcha por Cuba naquele país.

Mas o anúncio do Project Censored, que há 30 anos revela as grandes omissões da mídia hegemônica, já era esperado desde que, após o terremoto, só dois veículos de comunicação dos Estados Unidos "informaram" da resposta cubana à tragédia do Haiti. Um deles, a Fox News, afirmou que os cubanos estiveram ausentes da lista de países do Caribe que acudiram a prestar ajuda. O outro, o Christian Science Monitor, disse que Cuba havia enviado só 30 médicos. E entre essas omissões, erros, também mentiras, ninguém esquecerá quando a CNN fez passar por espanhol ao Dr. Carlos Guillén, diretor pela parte cubana do Hospital de La Paz, o infernal Delmas, 33. Mas o deliberado engano não funcionou. O médico trajava na tela da televisão um pulover do Che, falava com o ar bonachão dos de minha terra e seu rosto era por demais conhecido naquele hospital.

Mas a capacidade de assombro não tem limites quando nos grandes meios o assunto é Cuba e Haiti. Essa realidade foi bem demonstrada por uma recente pesquisa publicada pelo site Rebelión sobre a proposta cubana na Conferência de Doadores para o Haiti e a cobertura midiática. Conclui o estudo que a apresentação do projeto de reconstrução do sistema de saúde haitiano, apesar de ter sido considerado das idéias mais sérias e materializáveis colocadas na reunião, foi omitida por completo por se tratar de uma proposta cubana. De novo o The New York Times, o Boston Globe, o Washintong Post e a CNN riscaram olímpicamente a palavra Cuba de suas páginas.

Todavia, enquanto a grande mídia intenta apagá-los do mapa, passados quatro meses do terremoto os cubanos seguem fazendo seu trabalho no Haiti. Alguns números, que não são manchetes embora pudesem sê-lo, comprovam isso: em mais de 70 unidades hospitalares foram atendidos 155.479 pacientes, foram realizadas 6.177 intervenções cirúrgicas, 42.542 exames de laboratório, 2.486 estudos radiológicos, 527.710 tratamentos de reabilitação... Enquanto isso, com a ajuda da ALBA, foram montados 39 centros de saúde em distritos, foram habilitados 30 hospitais comunitários de referência, foram abertas 30 salas de reabiliatação física e psicológica, planeja-se construir um laboratório de próteses e três oficinas de eletromedicina, além de estar em desenvolvimento uma rede de vigilância epidemiológica: cuidados terrestres com os quais jamais sonhou este pobre país.

Assim volta a amanhecer aqui. Regressa o Dr. William com os seus colegas às tendas armadas ali onde nunca houve um hospital, mas sim muitos a quem cuidar. Certamente o The New York Times não falará deles, a CNN os fará passar por extraterrestres se for preciso, mas o pequeno Joseph lhes dirá "merci", e até os abraçará, quando a febre e sua dor de estômago desaparecerem. E isso bastará...

Um comentário:

AF Sturt Silva disse...

http://convencao2009.blogspot.com/